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OPINIÃO! Jornalista homenageia Marisa Alverga: "eu me sentia como se fosse filho adotivo dela"

MARISA ALVERGA – EU ME SENTIA COMO SE FOSSE FILHO ADOTIVO DELA, NOS ANOS 1980 (CAPÍTULO 1 – O NASCIMENTO DA AMIZADE)

Jornalista Giovanni Meireles (Foto: Arquivo Pessoal)
Não sei se será muita presunção da minha parte, mas nos idos de 1982/1986, acredito piamente que minha presença nas visitas ao cemitério de Guarabira, sempre aos finais de tarde, até mesmo em dias no meio da semana, representava uma espécie de "substituição" física momentânea pra ela, em relação à morte precoce de Geraldinho, que empresta seu nome ao Teatro Municipal.

Eu era aluno da então FAFIG (Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Guarabira), fundada por Roberto Paulino, ampliada por Zenóbio Toscano e que, finalmente, após anos de luta pela Federalização, acabou sendo encampada pela Furne (Fundação Universidade Regional de Campina Grande), por decisão do governador Tarcísio Burity e juntas, foi transformada em Campus 3 da UEPB (Universidade Estadual da Paraíba).

Tive o privilégio de dormir no quarto de Geraldinho, impecavelmente arrumado na casa de Marisa, localizado à rua Quintino Bocaiuva, no centro da cidade carinhosamente chamada de "Rainha do Brejo". Ninguém entrava naquele espaço sem permissão da mãe ciosa de seu rebento ausente, nem muito menos qualquer pessoa se aventurava a sentar, deitar a cabeça no travesseiro e descansar naquela cama de menino, rapaz solteiro. Só eu. Por isso me considerava meio "filho-adotivo".

MARISA ALVERGA – EU ME SENTIA COMO SE FOSSE FILHO ADOTIVO DELA, NOS ANOS 1980 (CAPÍTULO 2 – NOSSA CONVIVÊNCIA CULTURAL)

Minha mãe já tinha falecido e talvez isso reforçasse a carência afetiva em mão dupla: Marisa tinha perdido o filho e eu tinha praticamente a mesma idade dele, quando perdi a minha mãe, em Sapé. Eu, sem mãe, na "terra de Augusto dos Anjos" e ela, sem filho, na "Terra de Osmar de Aquino". Um choro compensava o outro e o abraço fraterno servia de ombro amigo pra ambas as partes derramarem suas lágrimas de saudade. Um sem mãe, a outra sem filho...

Estivemos juntos durante uma semana inteira, hospedados no mesmo hotel, na praia de Boa Viagem, num Encontro Cultural promovido pela SUDENE no Recife-PE, em 1987. Aqui estão os registros na minha participação ao lado dela e também de Ariano Suassuna, que nos brindou com uma de suas sensacionais aulas-espetáculo. Dois anos antes tínhamos editado um jornalzinho em formato tablóide, chamado "O Piemonte da Borborema", de curta duração (1985).

Marisa Alverga recebeu a medalha do Mérito Cultural "Augusto dos Anjos”, concedida pela Assembléia Legislativa, num dia 18 de setembro (como coincide exatamente com a data de hoje, que marca sua passagem para o Oriente Eterno), só que foi em 2007. Eram passados 20 anos desde aquele nosso encontro em terras pernambucanas, ao qual já me referi antes.

MARISA ALVERGA – EU ME SENTIA COMO SE FOSSE FILHO ADOTIVO DELA, NOS ANOS 1980 (CAPÍTULO 3 – A DESPEDIDA QUE NÃO HOUVE)

De lá para cá, já são transcorridos 40 anos. Ela veio de Guarabira, dirigindo seu próprio automóvel Del Rey, um carrão de luxo, na época, para prestigiar a Sessão Solene de Outorga do “Título de Cidadão Pessoense” à minha pessoa, no plenário da Câmara Municipal da Capital paraibana, em 2003. Tomamos uísque, café e cigarro. Marisa não se alimentava direito, com comida "normal" de cozinha e restaurante. Ele bebia a vida em goles de saudade. 

Nossa última conversa por telefone celular, de viva voz, aconteceu no começo deste ano, quando ela me convidou para ocupar uma cadeira da Academia Guarabirense de Letras "Alfeu Rabelo", depois que a Pandemia acabasse e pudesse todo mundo retornar às sessões presenciais. Ela estava empolgada com o planejamento desse retorno e com o aumento das atuais 28 cadeiras para até 40 acadêmicos, com a entrada de novos confrades e confreiras. Infelizmente, o tempo não deu tempo, ao tempo dela fazer isso.

Adianto que Gilson Souto Maior está escrevendo seu novo livro, onde constará o nome de Marisa Alverga, na parte em que ele fala sobre a Imprensa do Brejo. Parece que foi ontem, minha juventude com 25 anos de idade na sua casa em Guarabira. Saudades de filho adotivo, dedicados para a minha outra mãe, de coração e poesia.

PARA MARISA ALVERGA CABRAL, EM QUALQUER LUGAR QUE SUA ALMA SE ENCONTRE NESTE MOMENTO, AONDE QUER QUE ELA ESTEJA, NA TERRA, NO CÉU, NO COSMOS, NO UNIVERSO, NAS ESTRELAS OU ALÉM...

Por Giovanni Meireles (jornalista)
Publicada por F@F em 19.09.2021
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