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OPINIÃO! Juiz relaciona ano novo com a história da Virgem Maria

Além das intenções de Ano Novo

Autor: juiz e escritor Antonio Cavalcante (Foto: Arquivo Pessoal)
Numa charge que vi outro dia, três amigos conversam mais ou menos assim:

– Ano que vem vou parar de beber!

– Eu vou parar de comer carne! E você?  – Pergunta este ao que estava calado – Vai parar de fazer o quê?

– Vou parar de andar com vocês!

Não sou dado a fazer listas de intenções no fim do ano. Em dezembro de 2010 escrevi “O despertar do Ano Novo”, que tocava nesse assunto. Comecei com o poema de Drummond, “Receita de Ano Novo”. Diz o poeta que para ganhar um ano novo da cor do arco-íris não adianta fazer listas, nem chorar arrependido pelas besteiras consumadas. É ilusão achar que basta a virada do ano para tudo virar claridade e justiça, com direitos respeitados e liberdade com gosto de pão matinal. 

Há quatro anos, no texto “Lições de 2020”, retornei ao tema. Desta vez impactado pela dura experiência da pandemia.

Ano seguinte me veio a ideia de escrever textos de A a Z, falando sobre Nossa Senhora. No último, “Zelai por nós degredados”, dei uma pequena explicação sobre a intenção do ABC para Maria. 

Ano que vem não pretendo parar de comer carne, deixar de beber o quase nada que bebo, nem de andar com quem deseja fazer uma coisa ou outra. Mas peço a Deus que me permita aprimorar esses textos para reuni-los num livro. Mais do que intenção é uma promessa, de mim para mim mesmo, em honra de Nossa Senhora.

Desde que fiz Teologia meu coração foi tocado pela Mariologia. Não sou perito na “ciência teológica que investiga, esclarece e aprofunda a presença atuante de Nossa Senhora no mistério de Cristo e da Igreja”, como a define o Irmão Aleixo Maria Autran. Mas penso que falar sobre esses mistérios não é privilégio das sumidades nessa ciência. E compartilhar minhas reflexões é quase uma necessidade que se me impõe. Quase um “ai de mim se eu não anunciar”, como diz Paulo aos Coríntios.

Tal qual o apóstolo, pretendo que minha paga seja o anúncio gratuito. Nossa Senhora não precisa desse meu gesto, da mesma forma que sua grandeza independe dos tratados dos eruditos. Mas se todas as gerações a chamarão de bem-aventurada, por que não posso homenageá-la do meu jeito?  Além disso, não discordo da fala da personagem Maria, do novo filme da Netflix, quando diz: “Vocês podem achar que conhecem minha história. Mas acreditem, não conhecem.” 

O caso talvez nem seja de não conhecer a história da Virgem Maria. Mas pela pequenez do nosso ser diante da grandiosidade do mistério de Maria que, no dizer de Clodovis Boff, “é tão profundo e luminoso que continua a emitir luz e energia séculos afora”, por vezes as lentes humanas, mesmo as da fé, distorcem o pouco de luz que conseguem captar. Como lembro no texto “Teologia da Libertação e Maria, mulher pobre, forte e guerreira”, às vezes projetamos em Maria nossas ideologias. Ora a limitamos ao papel de doce mãe no espaço doméstico; ora a reverenciamos como rainha num trono distante; ora a confundimos com uma militante social. 

Maria, como destaca a Marialis Cultus, conheceu de perto a pobreza e o sofrimento, a fuga e o exílio, igual a milhões de outras mulheres para quem a igualdade de gênero é um horizonte distante. No entanto, como ressalto no artigo “Queda do homem e Nova Eva”, se a Lumem Gentium prefere não atribuir a Maria o título de corredentora, que poderia gerar equívocos de interpretação teológica, ao mesmo tempo exalta sua cooperação na história da salvação. 

Essa cooperação faz parte do enredo do filme Virgem Maria, da Netflix. Logo no início, a protagonista, interpretada por Noa Cohen – há críticas por ela ser israelense, a exemplo de outros atores do elenco –, anuncia que foi escolhida para entregar uma dádiva ao mundo, o maior presente que o mundo já recebeu. Quando o filho nasce, ela o toma nos braços e diz: eu escolho você, como você me escolheu. E depois de toda a saga para fugir da perseguição de Herodes – personagem de Anthony Hopkins –, com cenas de luta com a participação de José (o do filme é um jovem valente), Maria conclui: o amor custa caro, perfura seu coração, mas no final, o amor vai salvar o mundo. Malgrado as polêmicas em torno do filme, baseado num evangelho apócrifo e com a liberdade própria de uma obra de ficção, palavras como essas ajudam quando temos a intenção de parar de fazer coisas que fazem mal a nós mesmos e aos outros.

Feliz Natal! Feliz Ano Novo!

Por Antonio Cavalcante (juiz do Trabalho e escritor)
Em 19 de dezembro de 2024
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