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OPINIÃO! Percinaldo Toscano escreve sobre "Chico do Baita"

Um homem que lutou contra injustiças

Historiador Percinaldo Toscano (Foto: Arquivo Pessoal)
Em meio a tantas brincadeiras e contação de histórias, de modo muito especial, sobre a história política da classe operária brasileira, trabalhava diariamente e pontualmente, o artesão e sapateiro Francisco Carvalho Filho (Chico do Baita). Sentado em seu tamborete entrelaçado com borracha de pneus, diante uma banqueta que lhe dispunha ferramentas da labuta diária, sem desprezar seu boné estilo revolucionário Bolchevique, exibia orgulhosamente, em parede especial da pequena oficina, (localizada na Rua Pref. Manoel Simões – centro Guarabira), uma foto do emblemático e histórico comunista, aguerrido militante e político pernambucano, Gregório Beserra.  Posso afirmar que foi assim que conheci Chico do Baita, apelido que nem ele mesmo sabia explicar o motivo de sua origem.

Quanto à foto do líder camponês Gregório Beserra exposto na parede, um pouco acima de seu trono de operário sapateiro, sentia conscientemente a vontade de mostrar-nos sua cumplicidade e lealdade aos remotos e verdadeiros comunistas da segunda metade da década de 30, e consequentemente, a amizade motivadora para despertar nele um entendimento sobre política e militância no Partidão, quando em 1934, com apenas 20 anos, veio a ingressar na organização de classe dos sapateiros, fazendo-o participar, pela primeira vez, de campanha salarial da categoria. Assinante do jornal “A Classe Operária”, sentia-se fiel ao Partido Comunista Brasileiro, divulgando as teses marxista/Leninista a classe operaria guarabirense e paraibana.

Outro fato o assemelha ao líder comunista pernambucano. Foram meninos trabalhadores do campo, desde os oito anos de idade, sofrendo na pele e na alma, o descaso e a perseguição das elites rurais e urbanas, dirigidas aos camponeses.

Poucos sabem até hoje, que em meio às ladeiras úmidas do Sítio Lages de Baixo, no município de Pilõezinhos-Pb (na época distrito de Guarabira-Pb) nasceu Francisco Carvalho Filho, onde até os dose anos de idade conviveu com seus pais, retirando o sustento da casa através do trabalho campesino.

De memória prodigiosa, Chico nunca se esqueceu do menino Francisco, pobre, rural, livre pelos campos jogando futebol com bola de palha de milho, andando a cavalo de pau, pegando passarinho e contemplando animais no viço. Chega até lembrar Carlinhos em “Menino de Engenho”. Essa vivencia, com certeza contribuiu para a formação revolucionaria e fraternal do Jovem idealista Chico do Baita.

Ao falar sobre sua mudança para Guarabira, disse Chico: “Foi em fevereiro de 1927 que nós nos mudamos para Guarabira, eu já sabia ler, e foi daí que tive os primeiros contatos com os jornais [...], estudei a Cartilha das Mães, estudei, ainda, no 1º e 2º livro de leitura de Felisberto de Carvalho” (Fernandes, 2001, p 62.) Por volta de 1934, Chico já conhecia o Manifesto do Partido Comunista, assim como: “Um passo em frente dois passos atrás” de Vladimir Lênin. Foi na Rua do Rio, “(onde eu morava em Guarabira) que aprendi a profissão de sapateiro, através das aulas práticas de Seu Luiz da Cruz”, afirmou Chico.

Nem a clandestinidade na cidade de Sapé, trabalhando como sapateiro, nem os dias de cárceres em João Pessoa, nem mesmo os olhares repressores da elite reinante durante as décadas de 40, 50 e 60, fizeram Chico desistir de lutar por sua classe e pela união dos trabalhadores. 

Perguntado por um pesquisador o porquê dele sempre falar na velhice, respondeu que reconhece os limites da idade.  Sem hesitar, olhou para o infinito de sua oficina – universo de inúmeras lembranças - reafirmou que faria tudo novamente, lutaria contra o Capitalismo e defenderia direitos iguais para trabalhadores rural e urbano. “É quando sinto saudade de minha juventude.” Finalizou Francisco.

Por Percinaldo Toscano (historiador e cronista)
Guarabira, 01 de maio de 2025.
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