OPINIÃO! Martinho Alves disserta sobre os traços humanos de Osmar de Aquino
Traços humanos de um saudoso líder
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Martinho Alves de Andrade (Foto: Arquivo Pessoal) |
Na sua caminhada de advogado e político, Osmar de Aquino sempre fez favores e a pobres recusava honorários. Tinha nos amigos, um espaço que lhe permitia socorrer alguém quando necessário. Certa vez, Deputado Federal no Rio de Janeiro (1968) na tribuna fazia um discurso ardente contra o regime. De repente uma voz alta e forte: “muito bem 1 metro e 80”. Ao terminar o discurso, se retirou e procurou ver se era a pessoa que ele imaginava. Lá estava o amigo fiel de tantas jornadas em Guarabira, que sempre discordava da família e votava em Osmar. Conversa vai, conversa vem, empregou o jovem como motorista de um veículo para transportar freiras. Algum tempo depois, mais uma vez Osmar está na Baixa Câmara e a voz se repetiu: “meu querido 1 metro e 80”. Ao se encontrarem o deputado lhe indagou: “o que está fazendo aqui, cadê as freiras? Algum problema? Não, Dr. Osmar. Eu vim aqui perto, deixei as freiras lá com o carro e vim pra cá lhe dar um abraço”. Dá pra se entender que as religiosas deveriam estar muito aperreadas.
Cassado pela ditadura de 1964, tiraram de Osmar de Aquino o mandato e até mesmo o direito de fazer empréstimo bancário, para tocar a sua vida com a esposa, na Fazenda Milhã. Na política não fizera fortuna. Não costumava frequentar cozinhas e nem sala de estar de poderosos, esperando alguma compensação por ter sangue político. Esse fato me chegou ao conhecimento quando estive na residência dele com o saudoso e querido amigo Solon Benevides, cidadão que muito me influenciou a ser candidato a vereador de Guarabira pelo MDB, ao lado de Genival Lucena, apoiado pelo saudoso ex-prefeito Gustavo Amorim da Costa. Ele leu a carta que estava fazendo ao Presidente do Banco do Nordeste, reclamando dessa situação. Nada conseguiu, como se esperava.
Sem mandato algum, estava num Cartório da nossa cidade quando um senhor lhe procurou pedindo algum dinheiro para fazer a sua feirinha. Osmar se dirigiu a ele e com um bilhete para dona Myriam, o autorizou ir à presença dela e apanhar uma carga de agave. Vendesse e fizesse as compras de que necessitava para alimentar a família. Osmar era então um cassado da ditadura e muitos não entendiam, porém.
Em Guarabira quando não em casa, na Fazenda Milhã, ele era encontrado na rua, na feira livre, no café Central, no Cartório, no Fórum. Era político fácil de ser achado e de ser abordado, pois o Major Osório de Aquino e dona Maria Benevides, seus pais, prezaram no lar, enquanto crescia desde seu nascimento em 11 de dezembro de 1916, por uma educação longe do orgulho, da arrogância e da prepotência.
Enquanto prefeito de Guarabira, em 1955, Osmar foi informado da morte de um amigo muito pobre, que ao chegar ao cacimbão de Zé Madruga, então muito cheio, na antiga Estrela, ao se debruçar na borda para pegar o balde, escorregou e mergulhou de cabeça, não voltando mais a ser visto. Do infeliz cidadão, ficara na mureta do cacimbão, as sandálias, o sabonete e a toalha. Todos estavam observando para ver se havia sinal do infeliz e Dr. Osmar também se fazia presente, aguardando que fosse esgotado o cacimbão, pois autorizara o esvaziamento para as primeiras providências. Alguém lhe indaga ao lado, “o que está a procurar nobre prefeito?” Era o amigo que tinha se dirigido a alguma pensão da Estrela, para atender a um chamado de uma das proprietárias e agora viera lavar os pés.
Esse era o espírito de Osmar de Aquino, de quem Guarabira saudosa e muito tristonha, se despediu para sempre em 1980, portanto há 45 anos.
Por Martinho Alves de Andrade (escritor e historiador)Membro da Academia Guarabirense de Letras e Artes – Casa Marisa Alverga
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