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Criança que morava em barraco de papelão ganha casa e bolsa para dançar balé

Raíssa dança balé e conquistou policiais durante entrega de cesta básica na comunidade onde ela mora, em Campina Grande. Policiais mobilizaram campanha para construir casa para menina

Pequena bailarina ganha construção de casa e bolsa de balé para realizar sonho (Foto: Rômulo Gouveia/Arquivo pessoal)
Aos 9 anos de idade, Raíssa Andrade vive em situação econômica vulnerável em uma casa de papelão, localizada em uma ocupação irregular na cidade de Campina Grande. Apaixonada pelo balé e atendida gratuitamente no projeto Balé Cidade de Campina Grande, a menina despertou atenção de pessoas que querem ajudar a família dela a dar uma melhor oportunidade à bailarina. A criança ganhou uma bolsa para ter aulas de dança em uma escola privada e terá uma nova casa.

CONFIRA - Criança que morava em barraco de papelão ganha casa e bolsa para dançar balé, na Paraíba

Raíssa mora com o irmão Rian Andrade, de 12 anos, e a mãe Ivoneide Andrade, de 46 anos, que é catadora de material reciclável. Eles moram na segunda ocupação da favela do Papelão, em Campina Grande, ao lado do ginásio O Meninão. A área foi novamente ocupada após moradores terem sido realocados pela prefeitura para a construção de um hospital no local.

A simplicidade e simpatia da menina ganharam o coração e admiração de policiais que estavam entregando cestas básicas na localidade onde a família mora. O sargento Rômulo Gouveia, do 2º Batalhão da Polícia Militar da Paraíba, disse que Raíssa recebeu a doação da cesta básica com muita educação e delicadeza, e que ao mesmo tempo em que ele achou a atitude bonita, a condição de moradia onde a família morava chamou a atenção dele.

“Era um barraco pequeno em condições muito precárias e bem na porta predominava a lama no chão. No mesmo dia, fiz uma postagem do barraco refletindo sobre a condição de moradia. Algumas pessoas se sensibilizaram e se ofereceram para ajudar na construção”, disse.

Família que morava em barraco ganhou construção de casa (Foto: Rômulo Gouveia/Arquivo pessoal)

Foi aí que o sonho da pequena Raíssa começou a se realizar. O sargento voltou até o barraco de papelão onde a família morava para conversar com dona Ivoneide para fazer uma campanha para a construção de uma casa para a família.

Para dona Ivoneide, os filhos representam luz e esse momento é de alegria e realização, por saber que o sonho de cada criança é ter uma moradia digna e com o mínimo de condições para o desenvolvimento do futuro.

“Esse momento se resume a alegria e gratidão. Toda criança sonha em ter uma moradia melhor, mais acomodada. Ela desejava muito ter um cantinho pra ela, um quarto. Falava muito em ajudar a família”, comentou.

A campanha

Depois da iniciativa do sargento Rômulo, a mãe aceitou a proposta. O policial descobriu o amor de Raíssa pelo balé e lançou na internet a campanha “Uma casa para uma bailarina”. Através do amor da criança pelo balé, da educação e da simplicidade de Raíssa, a história da família começou a se redesenhar. A campanha foi lançada e ganhou grandes proporções.

Na organização do projeto, além de Rômulo, estão envolvidos os soldados Yuri e Josenilson e a arquiteta Inaiara Ayres. Além da arrecadação em dinheiro, começaram a chegar doações de roupas, donativos e cestas básicas para a família que sobrevive de recicláveis.

Primeiro foi feita uma vaquinha on-line, na qual foram arrecadados R$ 16 mil. Em seguida, uma página de rede social lançou a própria campanha de financiamento coletivo com alcance nacional, arrecadando mais R$ 43 mil, valor que será destinado à obra no dia 6 de novembro.

A casa será construída totalmente do zero. Inaiara se voluntariou para fazer o projeto, para que a casa seja construída em plenas condições sanitárias, de ventilação e estrutura correta.

O barraco já foi derrubado e a estrutura já está sendo feita. As obras começaram com o valor arrecadado na primeira vaquinha e a mão de obra é voluntária. Enquanto espera o fim da construção, a família vive em outro barraco, emprestado.

Além disso, algumas escolas particulares de balé também ofereceram bolsa para ela treinar e aprimorar os passos nas pontas dos pés.

Sonho de criança

Raíssa dança balé desde os 8 anos de idade no projeto Balé Cidade de Campina Grande, que é gratuito. O sonho dela é se tornar bailarina profissional e ter condições de dar uma vida digna para toda a família.

“Meu sonho é ser bailarina, dançar e poder dar condições de vida melhores para minha mãe e meu irmão”, disse.

Com as oportunidades que surgiram graças à sensibilidade do sargento Rômulo, hoje ela vê nele um amigo. “Rômulo é como um amigo, um companheiro. Ele se tornou muito especial e graças a ele hoje eu estou mais animada para realizar meus sonhos”, declarou.

Sem dinheiro para o transporte até as aulas de balé, ela e a mãe andavam cerca de cinco quilômetros até o teatro. Agora, a pequena ganhou bolsa para assistir aulas em uma escola de balé particular. A dona e professora da escola, Thalita Nóbrega, também paga o deslocamento de ida e de volta da mãe e da filha.

Segundo Thalita, o que a motivou a dar essa oportunidade a Raíssa foi ver através de vídeos a capacidade dela em meio a tanta dificuldade de trazer à tona todo o lado positivo que a dança traz, todos os sonhos que ela proporciona.

"Eu fiquei bem sensibilizada quando uma aluna me marcou em um vídeo dela nas redes sociais e eu vi a história dela. Fiquei impressionada com a capacidade dela de em meio a tanta miséria, dificuldade e problema, trazer todo o lado positivo que a dança traz, com a leveza, o doce olhar", disse.

Para Thalita, a palavra que descreve a pequena bailarina é superação. "Ela tão nova, com apenas 9 anos, já é um exemplo de superação para nós. Ela não se acomodou na situação que vive, não aceita viver como a família vive e busca todos os dias realizar os sonhos dela, tendo como objetivo de vida se tornar bailarina. Torço muito pela realização dela e espero contribuir para isso de alguma forma, porque eu também estou aprendendo com ela uma lição para a vida", afirmou.

Como Raíssa ainda é muito nova, a professora afirmou que ela está na idade certa de desenvolver as habilidades e técnicas da modalidade, acreditando que ela é uma das apostas do balé no futuro.

"Raíssa está na idade certa de ser inserida no balé, na dança. Aos 9 anos, ela já consegue desenvolver técnicas e habilidades. Ela é uma aposta não para mim, mas para Campina Grande. Ela tem o objetivo de ajudar a família e precisa ser encaminhada para outras grandes escolas, que tenham projetos sociais com a condição de dar suporte de moradia melhor, apoio de alimentação e inserção no mercado", comentou.

A expectativa pela nova história

Depois que o barraco foi destruído e enquanto a nova casa ainda está em construção, a família está morando em outro barraco de papelão emprestado, próximo ao local onde a casa será construída. Raíssa e a família visitaram o local, que ainda está sem nada, mas já consegue idealizar muitos sonhos para o seu futuro na nova casa.

Apesar de ainda estarem morando em um barraco de papelão, ver o barraco derrubado e a construção prestes a acontecer representa um novo tempo para dona Ivoneide.

“A gente vai viver melhor. Teremos uma comodidade melhor, pois o cantinho que a gente morava era muito precário. Nós três dormíamos na mesma cama. Só em ter a previsão de ter um cantinho melhor, as crianças estão bem felizes, principalmente Raíssa, e isso me deixa muito feliz”, falou.

Para Raíssa, a sensação é ótima. Agora, ela espera ter uma casa com estrutura mais confortável, para que ela possa construir o seu futuro. “Estou com sensação de alegria, sensação ótima. Espero poder estudar e trazer muita alegria para minha família”, afirmou a pequena.

A realidade

Mesmo prestes a terem moradia nova, muito chão ainda precisa ser caminhado para um futuro melhor. Com a pandemia do coronavírus, as crianças estão praticamente sem assistir aulas.

Raíssa é matriculada em uma escola municipal, e Rian em uma escola estadual, próximo do local onde eles moram. Sem boa conexão à internet e sem domínio das tecnologias, o único estudo deles está sendo através de atividades. As diretoras disponibilizam as atividades para Ivoneide ir buscar e entregar. Os professores fazem a correção.

Com a nova casa e novas oportunidades, Raíssa espera ter oportunidade para estudar e construir, dia após dia, os detalhes de um final feliz.

Do G1 Paraíba
Publicada por F@F em 12.10.2020
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