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Crianças com TOC desenvolvem mais sintomas por conta da pandemia, diz estudo

Segundo o experimento, as crianças manifestaram mais sintomas ligados a ameaça direta de infecção, como o medo de adoecer ou perder um parente próximo para a doença

Ansiedade afeta crianças (Foto: Reprodução/Globo News)
Pesquisadores da Dinamarca acreditam que a Covid-19 está causando mais danos em crianças que sofrem de ansiedade e Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC) do que em adultos. O estudo realizado pela Universidade de Aarhus, descobriu que a maioria das crianças diagnosticados com essas condições estão sofrendo de sintomas piores durante a pandemia.

O levantamento foi feito a partir de um questionário encaminhado a dois grupos de crianças e jovens com idades entre sete e 21 anos. Ao todo, 102 crianças receberam o questionário.

O primeiro grupo (o clínico) foi formado por crianças e jovens recém-diagnosticados com TOC, em uma seção especializada no Centro de Psiquiatria Infantil e Adolescente da universidade. Eles tiveram acompanhamento com um terapeuta do hospital.

Já o segundo grupo (de pesquisa) foi identificado com a ajuda da Associação Dinamarquesa de Transtorno Obsessivo Compulsivo e era formado por crianças e jovens que foram diagnosticados há mais de um ano, com o tratamento primário já concluído.

O experimento foi realizada durante os meses de abril e maio de 2020.

O TOC é um transtorno com muitas expressões clínicas diferentes, incluindo ansiedade pela saúde, medo de bactérias e sujeira, e lavagem excessiva das mãos. Os pesquisadores buscaram analisar como a crise sanitária e as regras de convivência que foram impostas por conta da pandemia, afetaram a frequência do transtorno.

Nos dois grupos os participantes relataram uma piora nos sintomas de TOC, ansiedade e depressão durante a pandemia, porém no segundo grupo os sintomas foram mais agravados.

Resultados

Do total de entrevistados (102), 65 responderam ao questionário. Desses, 53% no início do estudo relataram estar bem ou razoável em relação aos sintomas dos transtornos analisados, 28% relataram uma percepção moderada e 20% informaram uma evidência maior de sintomas.

Um total de 42 indivíduos do primeiro grupo foram diagnosticados com pelo menos um transtorno psiquiátrico, desses, 24 tinham um membro da família com o mesmo transtorno.

No segundo grupo, 19 pessoas relataram ter sintomas há menos de 5 anos.

Com a pandemia - dentre o primeiro grupo - metade dos participantes relataram uma piora nos sintomas: 32% informaram que tiveram mais crises de ansiedade e cerca de 33% dos sintomas de depressão.

Já no segundo grupo, com pessoas que foram diagnosticadas há mais de um ano, 73% relataram piora. Cerca de 54% relataram piora nos sintomas de ansiedade e 43,2% nos sintomas depressivos.

O grupo recém-diagnosticado apresentou novos sintomas de TOC, descrevendo que os pensamentos sobre a pandemia se tornaram parte integrante da rotina.

Os pesquisadores argumentam que esse é um dos poucos estudos que foi realizado durante a pandemia com foco em crianças. No entanto, eles concordam que o número de participantes foi bem limitado para realizar um levantamento mais amplo.

Ameaça direta da infecção

O estudo não identificou uma correlação com ansiedade sobre a Covid com a lavagem excessiva das mãos, por exemplo. Nesse caso, foram apontados maiores índices de ansiedade sobre ameaças diretas da infecção, como o medo de adoecer ou perder um parente próximo para a doença.

Os autores do estudo revelaram que os entrevistados cujos pensamentos estão focados em si mesmos ou em membros da família que ficaram doentes, apresentaram sintomas de TOC mais graves. Crianças que já tinham sido diagnosticadas com o TOC também tiveram o maior aumento nos sintomas durante o estudo.

Para o pesquisador Alberto Filgueiras, do Instituto de Psicologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), os resultados da pesquisa confirmam que as crianças e adolescentes tendem a apresentar níveis mais difíceis de compreensão em relação a adoecimento.

"As crianças não possuem maturidade e racionalidade envolvidas em suas questões emocionais. Elas conseguem sentir que tem algo errado, mas não sabem exatamente como isso funciona. Isso ocasiona um aumento de pensamentos disfuncionais - conclusões não realistas e irracionais - que tendem a estar associados a situações catastróficas, como a pandemia", afirma Filgueiras.

Segundo o psicólogo, no contexto da pandemia, as crianças podem imaginar que a família inteira vai se contaminar. "Todos esses pensamentos intrusivos tendem a aparecer com mais frequência em crianças, dada a maturidade desses indivíduos".

Filgueiras argumenta sobre a importância dos pais terem uma conversa clara e didática com os filhos sobre a pandemia, explicando sobre cuidados, riscos de contaminação e qualquer outro aspecto que possa tranquilizar a criança. No entanto, no caso de indivíduos que são diagnosticados com algum transtorno psicológico é indispensável o acompanhamento médico.

Do Bem Estar/G1
Publicada por F@F em 22.11.2020
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