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Manaus tem hospitais lotados, sem oxigênio, e pacientes transferidos para outros estados

A ocupação dos leitos de UTI para Covid nos hospitais públicos do Amazonas está em 94%; 427 pessoas esperam por um leito. Os sepultamentos bateram recorde: 198 em um único dia

Com hospitais cheios, Manaus enfrenta séria crise no abastecimento de oxigênio (Foto: Bruno Kelly/Reuters)
Manaus vive uma situação absolutamente dramática. Com hospitais lotados e sem cilindros de oxigênio suficientes, o governo do Amazonas começou a transferir pacientes de Covid para outros estados e decretou toque de recolher.

É o caos. Pacientes em enfermarias lotadas, sendo reanimados no chão. “Em muitas ocasiões, a gente entuba e fica ventilando na mão até arrumar um ventilador. A gente fica ambuzando o paciente até conseguir um ventilador de algum paciente que falece. Mas é complicado porque até oxigênio está faltando para gente”, conta uma funcionária do Hospital 28 de Agosto.

Ambuzar é fazer a oxigenação manual. Força bruta para tentar salvar uma vida. Essa falta do oxigênio levou médicos ao desespero: “Simplesmente acabou o oxigênio de toda uma unidade de saúde, não tem oxigênio. Muita gente morrendo. Quem tiver disponibilidade, por favor, oxigênio aqui para o SPA da Policlínica da Redenção. Tem muita gente morrendo, pelo amor de Deus”.

Foi nessa mesma unidade que Michele perdeu o pai. “Parece que a gente está vivendo um terror, entendeu? Parece que é coisa do outro mundo. Como faltar oxigênio em um posto de saúde?”, questiona a cozinheira Michele Viana.

“O oxigênio foi parando, os pacientes foram agonizando e as enfermeiras não sabiam o que fazer”, conta o professor de Educação Física Walederson Brandão.

Quando recebeu a notícia de que o oxigênio tinha acabado na Fundação de Medicina Tropical, onde o filho está há três dias internado, o promotor de Justiça não pensou duas vezes. "Eu tinha uma bala de oxigênio de 10 metros cúbicos, carreguei nas costas, entrei no hospital desesperado. Todos os médicos e enfermeiros sem ter condições de fazer absolutamente nada. A única solidariedade era o olhar de choro de todos eles, de desespero. Todos os pacientes praticamente morrendo, morrendo. Eu cheguei na hora exata. Eu cheguei, meu filho, na hora exata, não tinha mais oxigênio e consegui instalar bomba de oxigênio dele", conta o promotor de Justiça Públio Bessa.

“O que eu vivi hoje nem nos meus piores pesadelos, eu pensei que poderia acontecer. Não ter como assistir um paciente, não tem palavras para acalentar um familiar. Isso é uma coisa vai ficar uma cicatriz eterna nos nossos corações é um dia de grande tristeza para cidade de Manaus”, diz a médica residente Gabriel Oliveira.

Durante a tarde, no Hospital 28 de Agosto, o maior pronto socorro do estado, o oxigênio dos pacientes foi reduzido para racionar o uso.

“Nós assistimos parte dos hospitais de Manaus e das unidades de pronto-atendimento se transformarem em uma espécie de câmera de asfixia, onde muitas pessoas perderam suas vidas. Outras ficaram com oxigenação insuficiente, sendo usados com ventilação manual o que certamente o pode resultar em sequelas gravíssimas”, conta Jesem Orellana, epidemiologista da Fiocruz.

A ocupação dos leitos de UTI para Covid nos hospitais públicos do Amazonas está em 94%; 427 pessoas esperam por um leito. Os sepultamentos bateram recorde: 198 em um único dia. O número é seis vezes a média diária de enterros registrada antes da pandemia.

Diante da crise da Covid no estado, o governo do Amazonas decidiu transferir pacientes. O Amazonas começou a transferir pacientes com quadro clínico considerado moderado. Pelo menos 90 devem ser transferidos nesta quinta (14), de um total de 235 pacientes. Eles devem ser encaminhados para os estados do Maranhão e Piauí e também para Distrito Federal.

Entre outras medidas, o governo do estado suspendeu o transporte intermunicipal de passageiros pelas rodovias e rios da região. Com a Covid em alta no estado, o Pará fechou a divisa com o Amazonas.

Para reduzir a circulação de pessoas, o governo do Amazonas decretou toque de recolher por dez dias. “Estamos, também, decretando o fechamento de todas as atividades e a circulação de pessoas entre 19 horas e 6h, exceto atividades e transporte de produtos essenciais à vida. Aí teremos o funcionamento de farmácias, mas para a entrega de delivery, de entrega por demanda. A circulação de pessoas que trabalham em áreas estratégicas e essenciais, como saúde, segurança pública, imprensa”, diz o governador do Amazonas, Wilson Lima.

Em meio a tudo isso, a Fiocruz Amazônia confirmou o primeiro caso de reinfecção de Covid no estado, provocada por uma variante do coronavírus. A paciente é uma mulher, que mora em Manaus e, segundo o governo, já se recuperou da doença.

Essa mesma variante do vírus da reinfecção foi detectada no Japão, em viajantes que passaram pelo Amazonas.

A empresa White Martins, que fornece oxigênio para todos os hospitais de Manaus, afirmou que a demanda aumentou cinco vezes nas últimas duas semanas, e que o consumo é maior do que a capacidade da produção total da fábrica na cidade. A empresa informou ainda que está organizando o transporte de oxigênio de outros estados, que tenta viabilizar a importação da Venezuela, e que recebeu autorização da Anvisa para reduzir temporariamente o percentual mínimo de pureza do oxigênio medicinal produzido no Amazonas.

Do G1/Jornal Nacional
Publicada por F@F em 14.01.2021
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