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RELATO! Antonio Santos relata momentos difíceis infectado com o novo coronavírus

Relato de um infectado por coronavírus

Teste da Covid-19 (Foto: Arquivo Pessoal)
Amigos, eu tive Covid-19. Como um arroubo inesperado, sem que a vida pudesse instrumentalizar ou aferir o tamanho inicial, o vírus chegou de mansinho, feito uma “gripezinha” (como menosprezou o presidente Jair Bolsonaro). Mas, em menos de dois longos e tenebrosos dias, o corpo, a alma e o espírito já estavam contaminados e quase inerte para quaisquer atividades físicas, psicológicas ou coisas que o valham.

Em princípio, a “gripezinha” apresentava-se apenas com uma simples coriza (inflamação da mucosa nasal, acompanhada eventualmente de espirros, secreção e obstrução nasal). Febre amena, dor-de-cabeça similar e um mal-estar sintomático, com gosto de cabo de guarda-chuva no interior da boca, como se estivesse perdendo o domínio corporal e espiritual sobre as atividades cotidianas.

No terceiro dia, como se abatido feito boi em matadouro, já estava acamado. Doente de verdade, pois o infame (novo coronavírus) dominava meu ser por completo. Sem poder mais andar, nem me alimentar de coisa alguma, tomava apenas água e vomitava tudo em seguida.

A dor, o mal-estar e a vontade de morrer eram tão intensas que cheguei a pedir vênia a Deus. “Senhor, se for minha hora, que a vossa divina vontade seja feita”.

Frio, febre, dor-de-cabeça, vômitos, o corpo todo em falência e a mente em pleno desespero, tudo isso me fazia apenas pensar em partir deste mundo.

A experiência de ser infectado com o novo coronavírus foi e certamente continuará sendo a mais triste, penosa, doentia e maléfica de toda minha existência. E olhe que já vivi outras dores, mas nunca no tamanho e na gravidade da que passei com a Covid-19.

O vírus é tão forte e violento que sequer lhe deixa pensar. Passei mais de 10 dias sem me alimentar de nada. Repito: só bebia água e tudo que ingeria vomitava em seguida. Achava que era o meu fim. Claro que orava em Deus, Jesus e Maria todos os dias. E esse foi o meu forte. A fortaleza que cobriu meu ser de proteção.

Mas o pior é que a dor, a vontade de fenecer e a angústia da vida não passavam. O vírus (certamente criado pelo “inimigo de Jesus”) não me permitia quaisquer chances de reagir. Minha netinha e minha esposa (à beira da cama coitadas) oravam diuturnamente, vendo a fragilidade do meu ser a cada dia piorar.

Graças as orações em Deus, Jesus de Nazaré e Maria Santíssima não me faltou a respiração. O pulmão reagiu bem e foi o diferencial positivo. Não sei até que estágio foi infectado. Ainda irei fazer exames mais detalhados. O importante é que o sistema de respiração aparentemente funcionou sem danos maiores.

Por outro lado, perdi o olfato e o paladar. Podia até ingerir o mais forte fel que seguramente não iria sentir cheiro nem gosto de nada. Sem ingerir alimento ou líquido vitamínico algum, o corpo fragilizou, as pernas enfraqueceram e não puderam mais me fazer caminhar. Durante quinze dias, a esperança faltava como lume em meu ser. Sá a vontade de partir para o infinito era minha condução temática.

No décimo sexto dia, a amargura, a dor, a tristeza de viver, a ânsia constante de mal-estar e a impossibilidade de reação do corpo e da alma me fizeram saber que não somos nada, sobretudo quando estamos dominados por um inimigo desconhecido, violento e com capacidade plena de lhe tirar a vida a qualquer momento.

Mesmo contra a vontade do próprio corpo, comecei a ingerir um pouco de suco, leite e vitaminas. Foi a partir daí que observei a presença de Deus em meu redor. As orações ao Pai Eterno, ao mestre Jesus e em louvor à Maria começavam a funcionar, me propiciando pequeno ânimo de continuar vivendo, mesmo a ânsia de morte sendo ainda muito forte.

Observava que a posologia e a influência da medicação caseira, tudo por permissão divina, davam sinais de reação. Sentia o vírus pedindo para permanecer habitando o meu ser, mas Deus lhes ordenava saída, aumentando a esperança de viver que havia perdido há 15 dias.

Ressalte-se, no interim de vida e morte, a fé e as orações poderosas de minha mãe Marlene Ferreira. A dedicação essencial de Sílvia Cardoso (esposa) e Ana Sophia (netinha). Com a permissão divina, elas foram instrumentos de consignação pela expulsão do vírus do meu ser.

Apósseis meses, as pernas ainda não obedecem como deveriam, mas estou em processo de fisioterapia caseira, a conselho de um profissional da área. O corpo se porta fragilizado e as sequelas são de tosse, respiração um tanto comprometida e a sensação de reinfecção.

É claro que a turbulência física e mental passou um pouco. Em certos momentos do cotidiano, observo que a mente vagueia sem destino e me demoro a voltar ao raciocínio lógico e aprumado das coisas. Não estou doido. No entanto, é como se algo importante do meu ser tivesse sido subtraído sem minha permissão.

O bom e o salutar é que estou aqui dissertando a angústia de ter sido infectado com o novo coronavírus. Outros, por exemplo, não tiveram mesmo destino que eu. Partiram para o infinito sem sequer terem a chance de narrar o que passaram em decorrência da Covid-19. Que Deus os acolham num lugar merecido.

Enfim, rogo aos céus, dou vivas e digo amém, e de mesmo modo agradeço a Deus, a Jesus Cristo e à Maria Santíssima por ter sobrevivido ao terrível e “mortal veneno” do novo coronavírus. Se estou entre os vivos até agora é porque continuo sendo merecedor da vida. 

A rotina de não sair de casa para evitar uma reinfecção tem sido constante. E, por conseguinte, continuo sem receber visitas, nem visitando ninguém, praticando as medidas protocolares (álcool em gel e máscara) para não ser reinfectado, até que a imunização (vacina) me seja aplicada.

Mesmo tendo herdado sequelas, o holocausto da Covid-19 passou e não vai me deixar saudade alguma, pois eu “vi a morte e ela estava viva”.

Em, 23 de dezembro de 2020.

Antonio Santos
Poeta e jornalista/Guarabira
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